A Conquista da Terra

por Elizabeth Madureira Siqueira 7 de março de 2021 0 comentários
As primeiras excursões feitas no território de Mato Grosso datam de 1525, quando Pedro Aleixo Garcia vai em direção à Bolívia, seguindo as águas dos rios Paraná e Paraguai. Posteriormente portugueses e espanhóis são atraídos à região graças aos rumores de / MOACYR FREITAS

Entre 1673 e 1682, os bandeirantes paulistas Manoel de Campos Bicudo e Bartolomeu Bueno da Silva subiram o rio Cuiabá até a sua confluência com o rio Coxipó-Mirim, onde acamparam, denominando o local de São Gonçalo. No final de 1717, seguindo o mesmo caminho do seu pai, António Pires de Campos chegou ao mesmo local, rebatizando-o de São Gonçalo Velho.

Nessa região, onde hoje vivem ribeirinhos e ceramistas, encontraram uma aldeia de índios bororó. Muitos foram aprisionados em combate e levados para São Paulo como escravos. Paralelamente à extração do ouro, os bandeirantes paulistas continuaram a buscar uma mercadoria que, segundo eles, abundava nos sertões brasileiros: os índios. Foi em seu encalço que as expedições de Antônio Pires de Campos, seguida da de Pascoal Moreira Cabral, atingiram terras que pertenceriam, mais tarde, a Mato Grosso. Pires de Campos, em 1718, localizou os índios nativos das margens do rio Coxipó-Mirim, chamados, pelos bandeirantes, de coxiponés.

Logo após uma das refeições, alguns integrantes dessa bandeira, lavando os pratos nesse rio, encontraram, casualmente, pepitas de ouro. Estavam descobertas as minas em território mato-grossense (1719).

BETH MADUREIRA

A bandeira de Pascoal Moreira Cabral seguiu ao encalço desses índios, dando-lhes violenta guerra, na qual foram perdidos muitos homens, de lado a lado. Depois de serem socorridos por outra bandeira capitaneada pelos irmãos Antunes Maciel, resolveram seguir para o Arraial de São Gonçalo Velho, ou Aldeia Velha, onde haviam deixado alguns homens acampados. 

Para organizar o primeiro arraial, cobrar os impostos em nome da Coroa portuguesa e estabelecer a justiça, os mineiros aclamaram, como guarda-mor, Pascoal Moreira Cabral, que, inicialmente, ficou à frente dos trabalhos administrativos e fiscais. Sua nomeação oficial, dada pelo capitão-general da Capitania de São Paulo – da qual essas novas minas faziam parte – só ocorreu a 26 de abril de 1723.

Fundação de Cuiabá - 
O arraial da Forquilha localizava-se na confluência de dois ribeirões, que, ao juntar-se, davam continuidade ao rio Coxipó. Daí a origem do nome. Supõe-se que o fundador do arraial tenha sido o bandeirante António de Almeida Lara, que, em 1720, estava explorando o rio Coxipó. Forquilha teve vida efêmera. Manteve-se como principal arraial das minas cuiabanas por apenas um ano e meio, até a descoberta das Lavras do Sutil, quando entrou em plena decadência.

Pascoal Moreira Cabral enviou, até a vila de São Paulo, Fernão Dias Falcão, a fim de levar a boa nova da descoberta. A notícia do novo achado aurífero fez acorrer, para as minas do Coxipó, grande quantidade de pessoas das mais variadas partes da Colônia. Exauridas rapidamente, deram origem a uma outra, também no rio Coxipó, porém às margens do córrego Mutuca, onde foram encontradas jazidas de ouro. Essa mina ensejou o nascimento de mais um arraial, a que deram o nome de Forquilha. Colocaram-no sob a proteção de Nossa Senhora da Penha de França, padroeira desse segundo achado aurífero e, como era de costume, ali ergueram uma capela em homenagem à santa.

Designação oficial de Pascoal Moreira Cabral como guarda-mor das Minas - 
Atendendo a que Pascoal Moreira Cabral tem feito entradas nos sertões à diligência de descobrir ouro, em que gastou alguns anos, com muita despesa de sua fazenda, morte de escravos e com grande risco da própria vida, pelo dilatado e agreste sertão, e multidão do gentio bárbaro, conseguindo com a sua diligência o descobrimento de ouro, que hoje se acha com grande estabelecimento no sertão do Cuiabá, e ter sido eleito pelo povo, que se achava naquelas minas, e ter sido confirmado pelo meu antecessor, o conde dom Pedro de Almeida, hei por bem fazer-lhe mercê do cargo de guarda-mor das ditas minas […]. ” Rodrigo Moreira César de Menezes (Fonte: Leite -1982).

O primeiro bandeirante em Cuiabá - 
Manoel de Campos Bicudo foi um bandeirante pioneiro na penetração do Oeste brasileiro, no início do século XVII. Com o seu filho António Pires de Campos, foi o primeiro bandeirante a atingir a região da atual cidade de Cuiabá, entre 1673 a 1682. Antônio Pires de Campos, ainda criança, acompanhou a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, até a mitológica Serra dos Martírios, que nunca foi localizada novamente.

Filho do coronel Pascoal Moreira Cabral e de Mariana Leme, nasceu em Sorocaba (SP), no ano de 1654. Seu pai dedicara-se aos trabalhos mineralógicos junto às Minas de Araçoiaba, mais tarde Fábrica de Ferro de S. João de Ipanema, também em Sorocaba.

Desde muito jovem, Pascoal Moreira Cabral dedicou-se ao sertanismo preador de índio. Em 1682, já era cabo da bandeira capitaneada por André Zunega, seu parente. Foi nessa expedição que Pascoal adentrou, pela primeira vez, em território mato-grossense, na região de Miranda, atual Mato Grosso do Sul.

Foi durante esse período que ganhou dois filhos, provavelmente, descendentes de uma índia, aos quais, mais tarde, reconheceu como filhos naturais. Oficialmente, casou-se em 1692, na cidade de Itu, com Isabel Siqueira Cortes, natural da Capitania da Paraíba. Com ela teve 4 filhos, sendo que o primogênito, que herdou-lhe o nome, acabou morrendo, em pleno sertão, no ano de 1722, quando foi vítima de um ataque de índios.

Em 1699, capitaneou uma bandeira na região de Curitiba e, em 1716, seguiu novamente para a região de Miranda, onde passou dois anos em incursões de aprisionamento de índios. Dois anos depois, terminou subindo o rio Paraguai, atingindo o Cuiabá e, deste, seu afluente, o Coxipó, onde travou violento combate com os índios coxiponés.

Nomeado guarda-mor das novas minas descobertas, Moreira Cabral ali viveu por muitos anos. Já velho, retirou-se para a primeira localidade onde ocorrera o primitivo achado aurífero, o Arraial Velho, às margens do rio Coxipó. Faleceu em 1730, aos 76 anos de idade, e seu corpo foi sepultado na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus, em Cuiabá.

Sorocabano Miguel Sutil - 
No ano de 1721, outro sorocabano, Miguel Sutil de Oliveira, tendo descido o rio Coxipó rumo rio Cuiabá, onde havia plantado roça, enviou dois índios – a que José Barbosa de Sá, primeiro cronista de Cuiabá, denominou de escravos, “negros da terra” – buscar mel. No retorno, ao invés do doce alimento, trouxeram pepitas de ouro. Estava descoberta a terceira jazida aurífera mato-grossense, desta vez situada no leito do córrego da Prainha, tributário do rio Cuiabá.


OURO À VISTA!

A notícia do ‘achamento’ aurífero fez com que grande parte dos habitantes da Forquilha e até mesmo do Arraial de São Gonçalo Velho passassem a minerar no córrego da Prainha, fato que deu pontapé inicial ao povoamento de um pequeno vilarejo, sob a proteção do Senhor bom Jesus.
Para efeito de registro histórico desse primeiro período, o governador da Capitania de São Paulo solicitou que fosse confeccionada uma Ata de Fundação do descobrimento dessas novas minas que, mesmo tenso sido redigida em 1719, ainda sequer existia, valeu como documento fundador das minas mato-grossenses.
Mediante a garantia de que as minas cuiabanas já eram uma notória realidade, o capitão-general e governador de São Paulo nomeou, para o cargo de superintendente-geral das Minas, João Antunes Maciel, e para o cargo de capitão-mor regente, Fernão Dias Falcão, pessoas de sua mais absoluta confiança.

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Elizabeth Madureira Siqueira

Graduada em História, Mestre em História Social e Doutora em Educação pela UFMT. Tem experiência e produção nas áreas de História e Educação, com ênfase no contexto regional mato-grossense. Membro da Academia Mato-grossense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. e Curadora da Casa Barão.

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