Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o
nome de Mato Grosso, somente referindo-se às minas de Cuiabá, no fim do texto
da Carta Régia, é denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as
minas, Mato Grosso e Cuiabá.
São Gonçalo-Velho - A vigilância e proteção da fronteira oeste era mais
importante que as combalidas minas cuiabanas. A prioridade era Mato Grosso e
não Cuiabá. Na busca de índios e ouro, Pascoal Moreira Cabral e seus
bandeirantes paulistas fundaram a cidade a 8 de abril de 1719, num primeiro
arraial, São Gonçalo Velho, situado às margens do rio Coxipó em sua confluência
com o rio Cuiabá.
Arraial se torna Villa - Em 1º. de janeiro de 1727, o arraial foi elevado à categoria de vila por ato do
Capitão General de São Paulo, Dom Rodrigo César de Menezes. A presença do
governante paulista nas Minas do Cuiabá ensejou uma verdadeira extorsão fiscal
sobre os mineiros, numa obsessão institucional pela arrecadação dos quintos de
ouro. Esse fato somado à gradual diminuição da produção das lavras auríferas,
fizeram com que os bandeirantes pioneiros fossem buscar o seu ouro cada vez
mais longe das autoridades cuiabanas.
cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento, arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do Nascente a buscar o rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra chamada hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte Oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma oitava na era de 1734.
Irmão aventureiros - Em 1734, estando já quase despovoada a Vila Real do
Senhor Bom Jesus do Cuiabá, os irmãos Fernando e Artur Paes de Barros, atrás
dos índios Parecis, descobriram veio aurífero, o qual resolveram denominar de
Minas do Mato Grosso, situadas às margens do rio Galera, no vale do Guaporé.
Nos Annaes - Os Anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, escritos em 1754 pelo escrivão da
Câmara dessa vila, Francisco Caetano Borges, citando o nome Mato Grosso, assim
nos explicam: Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão
Artur Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio Pareci naquele tempo o mais
procurado, [...] cursaram mais ao Poente delas com o mesmo intento,
arranchando-se em um ribeirão que deságua no rio da Galera, o qual corre do
Nascente a buscar o rio Guaporé, e aquele nasce nas fraldas da Serra chamada
hoje a Chapada de São Francisco Xavier do Mato Grosso, da parte Oriental,
fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma oitava na era de
1734.
Dessa forma, ainda em 1754, vinte anos após descobertas
as Minas do Mato Grosso, pela primeira vez o histórico dessas minas foi
relatado num documento oficial, onde foi alocado o termo Mato Grosso, e
identificado o local onde as mesmas se achavam.
Todavia, o histórico da Câmara de Vila Bela não menciona
isso porque os irmãos Paes de Barros batizaram aquelas minas com o nome de Mato
Grosso.
"Notícia da Situação de Matto Grosso" - Quem nos dá tal resposta é José Gonçalves da Fonseca, em
seu trabalho escrito por volta de 1780, Notícia da Situação de Mato Grosso e
Cuiabá, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de
1866, que assim nos explica a denominação Mato Grosso: [...] se determinaram
atravessar a cordilheira das Gerais de oriente para poente; e como estas
montanhas são escalvadas, logo que baixaram a planície da parte oposta aos
campos dos Parecis (que só tem algumas ilhas de arbustos agrestes), toparam com
matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento, que entrando a
penetrá-lo, o foram apelidando Mato Grosso; e este é o nome que ainda hoje
conserva todo aquele distrito. Caminharam sempre ao poente, e depois de
vencerem sete léguas de espessura, toparam com o agregado de serras [...].
Porte da mata culmina na denominação - Acostumados a andar pelos cerrados do chapadão dos
Parecis, onde apenas havia algumas ilhas de arbustos agrestes, os irmãos
aventureiros, impressionados com a altura e porte das árvores, o emaranhado da
vegetação secundária que dificultava a penetração, com a exuberância da
floresta, a denominaram de Mato Grosso. Perto desse mato fundaram as Minas de
São Francisco Xavier e toda a região adjacente, pontilhada de arraiais de
mineradores, ficou conhecida na história como as Minas do Mato Grosso.
Capitania - Posteriormente, ao se criar a Capitania por Carta Régia
de 9 de maio de 1748, o governo português assim se manifestou: Dom João, por
Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, [...] Faço saber a vós, Gomes
Freire de Andrade, Governador e Capitão General do Rio de Janeiro, que por resoluto
se criem de novo dois governos, um nas Minas de Goiás, outro nas de Cuiabá
[...].
Dessa forma, ao se criar a Capitania, como meio de
consolidação e institucionalização da posse portuguesa na fronteira com o reino
de Espanha, Lisboa resolveu denominá-las tão somente de Cuiabá. Mas no fim do
texto da referida Carta Régia, assim se ex-prime o Rei de Portugal [...] por
onde parte o mesmo governo de São Paulo com os de Pernambuco e Maranhão e os
confins do Governo de Mato Grosso e Cuiabá [...].
Apesar de não denominar a Capitania expressamente com o
nome de Mato Grosso, somente referindo-se às minas de Cuiabá, no fim do texto
da Carta Régia, é denominado plenamente o novo governo como sendo de ambas as
minas, Mato Grosso e Cuiabá. Isso ressalva, na realidade, a intenção portuguesa
de dar à Capitania o mesmo nome posto anos antes pelos irmãos Paes de Barros.
Entende-se perfeitamente essa intenção.
Dom Antônio Rolim de Moura Tavares - Todavia, a consolidação do nome Mato Grosso veio rápido.
A Rainha D. Mariana de Áustria, ao nomear Dom Antonio Rolim de Moura como
Capitão General, na Carta Patente de 25 de setembro de 1748, assim se expressa:
[...]; Hei por bem de o nomear como pela presente o nomeio no cargo de
Governador e Capitão General da Capitania de Mato Grosso, por tempo de três
anos [...].
A mesma Rainha, no ano seguinte, a 19 de janeiro, entrega
a Dom Rolim a suas famosas Instruções, que determinariam as orientações para a
administração da Capitania, em especial os tratos com a fronteira do reino
espanhol. Assim nos diz o documento: [...] fui servido criar uma Capitania
Geral com o nome de Mato Grosso [...] § 1o - [...] atendendo que no Mato Grosso
se requer maior vigilância por causa da vizinhança que tem, houve por bem
determinar que a cabeça do governo se pusesse no mesmo distrito do Mato Grosso
[...]; § 2o - Por se ter entendido que Mato Grosso é a chave e o propugnáculo
do sertão do Brasil [...].
E a partir daí, da Carta Patente e das Instruções da
Rainha, o governo colonial mais longínquo, mais ao oriente em terras
portuguesas na América, passou a se chamar de Capitania de Mato Grosso, tanto
nos documentos oficiais como no trato diário por sua própria população. Logo se
assimilou o nome institucional Mato Grosso em desfavor do nome Cuiabá. A
vigilância e proteção da fronteira oeste era mais importante que as combalidas
minas cuiabanas. A prioridade era Mato Grosso e não Cuiabá.
Com a independência do Brasil em 1822, passou a ser a
Província de Mato Grosso, e com a República em 1899, a denominação passou a
Estado de Mato Grosso.
As Minas do Mato Grosso, descobertas e batizadas ainda em 1734 pelos irmãos Paes de Barros, impressionados com a exuberância das 7 léguas de mato espesso, dois séculos depois, mantendo ainda a denominação original, se transformaram no continental Estado de Mato Grosso. O nome colonial setecentista, por bem posto, perdurou até nossos dias.
Bibliografia:
FONSECA, José Gonçalves da. Notícia da Situação de Mato Grosso e Cuiabá. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro: tomo XIX, 1866
MENDONÇA, Marcos Carneiro de. Rios Guaporé e Paraguai, primeiras fronteiras definitivas do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca Reprográfica Xerox, 1983
MENDONÇA, Estêvão de. Datas Mato-grossenses. 1a edição. Niterói: Salesianas, 1919, vol I
Paulo Pitaluga Costa e Silva é historiador, escritor, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e seu ex-presidente. A sua especialização é na história colonial, em especial, no denominado Mato Grosso espanhol dos séculos XVI e XVII.
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